Queria conhecer a chuva...

Caiu a chuva sobre toda a cidade. Doce som. Caiu em terrenos arados, em sorrisos incompletos, em corações quebrados. A chuva cai sobre tudo, sobre todos. Nunca se sabe qual das inúmeras gotinhas de água viajará por mais tempo até ser absorvida pela terra. Todos desconhecem sua trilha.

A única coisa que sabemos é de onde ela vem...nunca para onde ela vai. Esse clima misterioso é o toque mais emocionante de um dia de chuva. Não é o fato de estar por baixo de cobertas com uma caneca de chocolate quente e um bom livro entre os joelhos. Enquanto milhões de personagens passam por nossos olhos, entre amores, desamores e aventuras...a chuva cai lá fora, sussurrando segredos que nunca iremos descobrir.

Não há Sherlock Holmes que desvende, não há Mrs Marple que descubra seu destino. Apenas viajam. Seja na calada da noite, ou no início da manhã. Quando a chuva para, ninguém mais se lembra de que ela lá esteve, a não ser pelo brilho colorido no firmamento que vez ou outra se mostra, nos lembrando da promessa feita a Noé há muito tempo atrás.

O que as gotas de chuva do dilúvio teriam para nos contar? Se pudessem falar...
Que belezas o orvalho que caiu no jardim do Édem nos descreveria? Se pudesse se comunicar...

Quantas lágrimas se misturaram a elas em momentos de tristeza, alegria, ou perda? Quantos sorrisos elas tocaram? Quantos sonhos elas puderam escutar no seu caminho em busca do rio?

Quem me dera conhecer a chuva. Acho que seríamos grandes amigas, não acham? Sua sensibilidade ao tocar as flores nos primeiros minutos do dia, como uma carícia da natureza. Seu sussurro que inspira poetas, leitores e amantes. O que mais elas saberiam nos dizer sobre o criador, sobre Deus?

Sei lá...às vezes sonho tão alto quanto as nuvens do céu. Acho que me daria bem, se fosse chuva.