26 abril 2015

[Liberdade] Capítulo 3 - Primeiro Round


Ninguém disse que esperar é fácil. Muito menos que as melhores coisas da vida se conseguem com facilidade. Mas por mais que essas verdades fossem conhecidas por mim e mais de metade das pessoas com a minha idade, ainda era difícil praticá-la. Sempre pensamos que a nossa ansiedade pode apressar o desenrolar dos acontecimentos, mas só fazem com que percamos momentos preciosos do nosso tempo. Não digo que é um erro fazer planos, mas deixar que esses pensamentos te distraiam doze horas por dia é algo inaceitável.

Eu estava muito próxima de entender o que são desilusões. Não digo daquelas famosas em que um relacionamento termina depois de tantos anos de "amor verdadeiro", mas daqueles que nunca começaram na realidade, mas você já o tinha como certo. A minha imaturidade foi uma das principais causas para que eu não suspeitasse desde o início como seria o final. Será que fui bem exata? Acho que quando você passa por isso é mais fácil entender do que olhar do lado de fora.

O fato é que o tempo passou, naquele dia algumas promessas foram feitas na minha vida. Na época estava com 16 anos. Sabiamente, mantive o silêncio sobre eles para toda e qualquer pessoa. Entendo que as palavras tenham sido ditas no público, mas não havia necessidade de fazê-las conhecidas aos meus parentes, amigos e colegas. Afinal, quem era a personagem principal que viveria aquelas promessas? Deixe que desconheçam, no momento certo Deus haverá de cumprir tudo o que foi dito, e todos verão e ouvirão. Não se apresse.

Quando eu ouvia alguém dizer que tinha chamada ministerial, ou missionária, ou seja ela qual for, eu ficava realmente admirada. Mas não digo admirada pelo teor das chamadas, mas pelo fato de que essas pessoas em questão estavam divulgando algo que era para elas. Não sei se inocentemente ou como forma de elevar algum tipo de status, deixar alguma boa impressão. Quando elas eram próximas, eu preferia ser direta e mostrar que há mistérios que devem ser mantidos em segredo até o seu cumprimento. Muitas acatavam os conselhos, outras tentavam se justificar com desculpas esfarrapadas e continuavam. Tanto faz.

Desde aquele dia a minha vida mudou. Mudou para melhor. Inconscientemente procurava aquele mesmo rosto que me chamou a atenção. Minha ingenuidade ainda era meu maior defeito. Com o tempo fui conhecendo mais o dono da voz. Pedro era um rapaz calmo e aparentemente bem centrado nos estudos e na obra de Deus. Começamos a conversar sem intenções maiores. Eu estava apenas sondando, e achando que ele também fazia o mesmo. No espaço de um ano conseguimos uma amizade forte e sincera. Ele me pedia conselhos, eu fazia o mesmo. Conversávamos com frequência, nossas famílias eram próximas e a os irmãos mais novos dele me amavam. Mas o erro foi meu, desde o princípio.

Sem perceber, acabei deixando que a grande amizade tomasse outras proporções na minha mente. Como já mencionei, minha ingenuidade me levou a cometer vários erros ao longo da vida. Entre nós nada mudou. Minhas atitudes continuaram as mesmas, nunca precisei disfarçar o meu verdadeiro eu quando estava com ele. Minhas ações eram sinceras, puras. Mas meu coração já não era o mesmo, e eu não me arriscava a admitir isso. Mas a notícia que eu nunca pensei ouvir chegou. Eu já não era a pessoa mais importante na vida de Pedro. Desconfiava que nunca mais seria a mesma coisa. Alguém conseguira o lugar no seu coração que eu nunca consegui conquistar. Meu mundo ruiu em alguns segundos.

Foram os piores meses da minha vida, os que se seguiram ao episódio. Inocente e amigável, Pedro nunca suspeitou do que se passava na minha mente. Eu preferi que assim continuasse, a perda já era irreparável, não queria piorar tudo. Em silêncio sobrevivi à pior tempestade que havia encontrado na minha curta vida de adolescente cristã. Tão grande que revoltei-me contra mim mesma. Como eu poderia ser tão ingênua ao ponto de deixar que alguém ultrapassasse as barreiras que eu construíra em volta dos meus sentimentos? Pelos vistos eram apenas de madeira, como na história d'Os Três Porquinhos. Um sopro e tudo veio ao chão.

Implorei a Deus em oração, entre soluços e lágrimas: "Não permita que eu sinta o mesmo novamente se não for da tua vontade. Errei e aprendi. Vou levantar-me e seguir a minha vida. Em troca, dá-me essa segunda chance." As nossas orações nos momentos difíceis parecem ser as melhores. Estamos quebrantados, rendidos e sem resistência alguma. Infelizmente só procuramos uma intimidade maior com Deus quando as coisas parecem estar dando errado, quando o chão parece o lugar ideal para nossos joelhos e a oração é o nosso único conforto. É nesses momentos que mais aprendemos, que damos espaço para que Deus trabalhe nas nossas vidas. Mas não deveria ser apenas em tempos difíceis.

Tentamos colocar Jesus no nível dos médicos. Só são procurados quando algo parece não estar funcionando corretamente. Se uma mancha diferente apareceu no braço; se as dores de cabeça parecem insuportáveis; quando a respiração começa a ficar difícil...o médico parece a solução mais viável. Não precisamos dele noutros momentos. São meros profissionais, nenhuma relação de amizade.

Mas Deus é diferente. Mesmo tendo um poder muito além do que os médicos possam imaginar possuir, ele é nosso amigo de todas as horas. O único que não nos deixa na mão. Mas achamos que só devemos procurá-lo quando a tristeza bate, quando o dinheiro parece estar escasseando e as dificuldades ameaçam derrubar a sua fé. Mas a fé deve ser estruturada a partir da sua intimidade com Deus. Aquela situação provocada na minha vida teve um propósito, eu precisava amadurecer e me aproximar mais do meu Criador. Não foi a última vez, prova de que ainda não tinha aprendido, não estava preparada. Mas quanto mais escura é a noite, mais brilhante é o dia que se segue.

--- Leia aqui a sinopse da websérie;
--- Primeiro Capítulo;
--- Segundo Capítulo;

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